sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Um épico da coleta seletiva por Etapas.

Corria o ano de 2029. O planeta estava afogado no lixo quando J.R. Elinton meteu-se a morrer. Decrépito, entoava uma compleição taciturna e castigada, mas seus olhos iridescentes denunciavam, em meio a um obnóxio novo mundo de Hades, aquele que havia sido o último dos homens a ter habitado a superfície. O seu funeral estava um fracasso, apenas prestava o seu luto, de forma alheia, seu sobrinho K. O menino, aos píncaros de seus vinte anos era, agora, o mais velho ser humano em vida, primogênito da nova geração, fora o primeiro parto no Reduto.

Os olhos de J.R. Elinton permaneciam abertos e pareciam contemplar um jovial sol a patuscar com uma pirilâmpica lua na orla do mar, um esperançoso ensaio de tudo o que não resta daqueles que já não existem. No entanto, eles apenas repousavam, descansavam da vida que caçaram. Aqueles dois vórtices desapaixonados pela sina tinham visto, em 2009, como a recessão derrubara casas e casos em crise e como as catástrofes decorreram do betume e da besteira.Haviam olhado para o crepitante superaquecimento, a superprodução de lixo e de hiperpoluição, mas sem atinar às suas premeditáveis conseqüências. Haviam registrado cada medida proposta, desde o implante e a conseguinte rejeição de taxas para coleta de lixo, campanhas de reciclagem apoquentadas, até alguns acelerados experimentos, na jactanciosa esperança de que brincar de Natureza salvaria sua natureza. Haviam testemunhado o descaso que atolou, subitamente, as pessoas em desgraça e o mundo e caos. Mas, abriram-se apenas quando já era tarde demais.

Aquela, agora diáfana, dupla de olhos tinha despertado no ocaso, junto a tantas outras, e puderam somente lacrimejar em vão, assistindo às medidas desesperadas de governadores e cientistas propondo absurdas máquinas de compactação de lixo em larga escala, ou pílulas de hidratação que fomentavam a economia de água no organismo, incineradores portáteis, ou sondas espaciais de lixo. E, enquanto lacrimejavam, viram-se levados a redutos subterrâneos construídos pela ONU e viram morrer, em vinte anos, todos os ex-habitantes da superfície, incapazes de viver na ausência de vida.

Os olhos, antes de serem fechados, puderam então compreender que o paraíso existiu na Terra, mas só podia ser visto pelos que abriam os olhos, e que seja qual for, medida nenhuma podia ser proposta que poderia livrá-lo do inferno, senão o despertar de cada indivíduo.

[Cof cof, primeiro lugar no concurso do Etapa de redação, não é bonitinho? Quanto talento!]- (Lichas)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

3 planos

Parte verídica:
Quando parei a olhar fixo para os cds da prateleira, o ventilador pareceu estar parado enquanto as paredes se moviam. Não é possível! Continuei olhando, mas a televisão começou a piscar em um tom meio verde escuro e em ritmo frenético. As ondas musicais oscilavam por todos os cantos chegando aos meus ouvidos pouco distorcidas, de forma que eu não podia compreender. Mas naquele exato momento o telefone tocou quebrando toda a vibração, meu espírito pareceu retornar para o submundo em que costumava viver.

Parte reflexiva:
Hoje não me sinto real. Deitado sob a paisagem que deixa o céu esverdeado, sentindo o vento bater em todo o corpo fazendo-o levitar, a maior vontade é que o mundo realmente acabe. Afinal, o que se há de fazer? Se nosso prazer está baseado em tirar proveito, imagine se em tudo que fosse 'inanimado' houvesse sentimento. Sinto que às vezes o apego material é tão acentuado que é de acreditar que nossas posses realmente sentem alguma coisa por nós, e em comparação com essa natureza, mais particular. É como se tivéssemos a necessidade de se apegar a algo para nos satifazermos. Confesso que assim como agora, confundo meus amores...

Isso não se encaixa:
Deixo agora esse mundo de divagações, pois não são pensamentos que vão mudar o mundo. O carnaval está pra chegar e no fim tudo acaba indo por álcool abaixo junto ao declive das passarelas e das avenidas.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Pout Pourri Baião - Fabinho




Música também vale né?
Tá aí minha homenagem ao baião brasileiro. Eu não sou tão bom, mas a música brasileira é maravilhosa e muito rica, portanto, acho legal fazer as pessoas conhecerem e adquirirem interesse em descobrir esse campo infidável que é a nossa cultura.

Músicas:

-Asa Branca - Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

-Felicidade - Lupicínio Rodrigues (não é baião, mas eu toco baião)

-Anunciação - Alceu Valença



( A qualidade baixa do som atrapalha de sentir a pegada baião, mas tamo aí né)



Fabinho no Acordeon.

http://www.youtube.com/watch?v=b4-umJgySoQ&feature=channel

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Pejorativo.

Prefácio:
Progenitores, placenta.
Parto. Pessoa.
Percurso:
Padrão.
Padre, parque, papinha, presentes, proteção, pipa, piscina, palhaço... penates.
Palavra.
Palpite, palmatória, parede.Professor, profeta, parágrafo, pintura, poesia, prosa, palco, provas, perdas. Progressos.
Pêlos.
Puberdade, pulo, pináculo, primavera:
Pabulagem, pileque, pandemônio, pretensão, poder, praia, perdição, prazer, paladar, pegação, preservativos, paixão.
Parceria. Pactos, promessas, pudor(...?), proposta. Profundidade. Perfeição. Precioso..
Pindaíba -> Postura! Precaução, prudência. Profissão, projeto.
Peso: pluma, pizza, pança, pelanca, penar, penar, penar, paranóia. Psicose.
Problemas. Psicose.
Por quês. Psicose.
Política, palanque, propina, palermas, putos, pseudos. Psicose.
Pane.
...
Patologia. Pneumonia, paralisia, parasitose, paliativos.
Perecer:
Pêsames.
Putrefação...


Por Paula Possari

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Literatejo (atrasado) pro dia das bruxas!

Era uma vez três enforcados felizes.

Andavam entre devaneios oníricos e perdições espumantes. Lânguidos, alimentavam-se de cabeças de carecas, pois o cabelo era difícil de digerir, coçava o estômago e, muito constantemente, fazia-os engasgarem.

Viviam no esgoto, pois quando saíam às ruas eram apedrejados, assim como as mães do oriente médio que têm seus cérebros estourados em fragmentos singelos e macilentos por suas crianças, tudo por terem seduzido os maridos de outras. A diferença é que a culpa deles era serem feios e doentios, e por isso, muitas vezes voltavam com alguns pedaços a menos de orelha ou nariz.

Seus olhos esbranquiçados babavam a libido de mortos que não tinham com quem escoar seus impulsos, escoavam, então, mutilando-se e, muitas vezes por dia, jogavam-se de penhascos. Uma vez por semana sonhavam com zebrinhas e toda quinta-feira à tarde fingiam sorrir defronte postes e paredes pelas ruas da cidade, embora fossem repudiados à luz do dia, sentiam-se bem com a tradição. Embora houvessem discutido muito sobre os riscos que corriam, haviam decidido que era tudo legal demais para pararem com isso.

Toda terça feira à noite, encontravam-se na praça com toda sorte de malditos e punham-se a contar contos de terror regados de ópio e bebericagens exageradas.

Certo dia, um dos enforcados veio com uma história cabulosa. A história mais hediondamente peluda dentre todas do mundo inteiro, chamava-se:

O HOMEM DA PERNA COMPRIDA

“Eu morava na roça num muquifo enlatado com minha mainha, meu pai e as minhas três irmãs. Meu pai tinha o hábito saudável de beber bastante, chegar em casa e violar toda a família. Minhas irmãs adoravam, minha mãe gritava de prazer e eu, particularmente, não gostava, às vezes meus fundilhos sangravam meses a fio, no duro.

“ Certa nebulosa noite, saí para tomar um ar e vi, na orla da floresta, sem eira nem beira, um vulto murmurante. Cheguei perto, uma melancolia ambulante, ululava por entre o desgosto um homem à cavalo. O homem, à primeira vista, era normal, simpático até, se descontarmos a falta de orelhas e as duas jabuticabas escuras que substituíam os olhos. Não tinha cabelo e a boca encontrava-se remendada por algum tipo de linha e cola quente, não sei ao certo.

“No entanto, havia uma coisa que me incomodava naquele sujeito, uma particularidade estranha dele, era sua perna. Uma delas era proporcionalmente uma razão áurea maior que o dobro da outra, deveras peculiar, e enquanto ele cavalgava a perna arrastava no chão e ele grunhia. Deixava para trás apenas a camada de carne que nunca cicatrizava e um rastro de sangue que nunca coagulava. E caminhava sem rumo, arrastando sua perna comprida pra onde o seu querido cavalo o levasse, e arrastando ia, e era sua sina.


Fábio Andó Filho.