terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Condenação
Porque passo as noites pensando
Em como mudar o mundo
Respeitando os pobres
Eu faço sexo sem camisinha para ser poeta
Porque me cansam as rimas planas
E só nos corpos encontro a sinuosidade
Que preciso para te comover
Eu fumo para ser poeta
Pois os boêmios memoráveis
Além de sairem bem nas fotos
Não levavam uma vida de santo
Eu bebo para ser poeta
Pois por aguentar a vida
E elevá-la a tal complexidade
Poeta bom é poeta morto!
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Je me souviens.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Um épico da coleta seletiva por Etapas.
Corria o ano de 2029. O planeta estava afogado no lixo quando J.R. Elinton meteu-se a morrer. Decrépito, entoava uma compleição taciturna e castigada, mas seus olhos iridescentes denunciavam, em meio a um obnóxio novo mundo de Hades, aquele que havia sido o último dos homens a ter habitado a superfície. O seu funeral estava um fracasso, apenas prestava o seu luto, de forma alheia, seu sobrinho K. O menino, aos píncaros de seus vinte anos era, agora, o mais velho ser humano em vida, primogênito da nova geração, fora o primeiro parto no Reduto.
Os olhos de J.R. Elinton permaneciam abertos e pareciam contemplar um jovial sol a patuscar com uma pirilâmpica lua na orla do mar, um esperançoso ensaio de tudo o que não resta daqueles que já não existem. No entanto, eles apenas repousavam, descansavam da vida que caçaram. Aqueles dois vórtices desapaixonados pela sina tinham visto, em 2009, como a recessão derrubara casas e casos em crise e como as catástrofes decorreram do betume e da besteira.Haviam olhado para o crepitante superaquecimento, a superprodução de lixo e de hiperpoluição, mas sem atinar às suas premeditáveis conseqüências. Haviam registrado cada medida proposta, desde o implante e a conseguinte rejeição de taxas para coleta de lixo, campanhas de reciclagem apoquentadas, até alguns acelerados experimentos, na jactanciosa esperança de que brincar de Natureza salvaria sua natureza. Haviam testemunhado o descaso que atolou, subitamente, as pessoas em desgraça e o mundo e caos. Mas, abriram-se apenas quando já era tarde demais.
Aquela, agora diáfana, dupla de olhos tinha despertado no ocaso, junto a tantas outras, e puderam somente lacrimejar em vão, assistindo às medidas desesperadas de governadores e cientistas propondo absurdas máquinas de compactação de lixo em larga escala, ou pílulas de hidratação que fomentavam a economia de água no organismo, incineradores portáteis, ou sondas espaciais de lixo. E, enquanto lacrimejavam, viram-se levados a redutos subterrâneos construídos pela ONU e viram morrer, em vinte anos, todos os ex-habitantes da superfície, incapazes de viver na ausência de vida.
Os olhos, antes de serem fechados, puderam então compreender que o paraíso existiu na Terra, mas só podia ser visto pelos que abriam os olhos, e que seja qual for, medida nenhuma podia ser proposta que poderia livrá-lo do inferno, senão o despertar de cada indivíduo.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
3 planos
Quando parei a olhar fixo para os cds da prateleira, o ventilador pareceu estar parado enquanto as paredes se moviam. Não é possível! Continuei olhando, mas a televisão começou a piscar em um tom meio verde escuro e em ritmo frenético. As ondas musicais oscilavam por todos os cantos chegando aos meus ouvidos pouco distorcidas, de forma que eu não podia compreender. Mas naquele exato momento o telefone tocou quebrando toda a vibração, meu espírito pareceu retornar para o submundo em que costumava viver.
Parte reflexiva:
Hoje não me sinto real. Deitado sob a paisagem que deixa o céu esverdeado, sentindo o vento bater em todo o corpo fazendo-o levitar, a maior vontade é que o mundo realmente acabe. Afinal, o que se há de fazer? Se nosso prazer está baseado em tirar proveito, imagine se em tudo que fosse 'inanimado' houvesse sentimento. Sinto que às vezes o apego material é tão acentuado que é de acreditar que nossas posses realmente sentem alguma coisa por nós, e em comparação com essa natureza, mais particular. É como se tivéssemos a necessidade de se apegar a algo para nos satifazermos. Confesso que assim como agora, confundo meus amores...
Isso não se encaixa:
Deixo agora esse mundo de divagações, pois não são pensamentos que vão mudar o mundo. O carnaval está pra chegar e no fim tudo acaba indo por álcool abaixo junto ao declive das passarelas e das avenidas.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Pout Pourri Baião - Fabinho
Música também vale né?
Tá aí minha homenagem ao baião brasileiro. Eu não sou tão bom, mas a música brasileira é maravilhosa e muito rica, portanto, acho legal fazer as pessoas conhecerem e adquirirem interesse em descobrir esse campo infidável que é a nossa cultura.
Músicas:
-Asa Branca - Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
-Felicidade - Lupicínio Rodrigues (não é baião, mas eu toco baião)
-Anunciação - Alceu Valença
( A qualidade baixa do som atrapalha de sentir a pegada baião, mas tamo aí né)
Fabinho no Acordeon.
http://www.youtube.com/watch?v=b4-umJgySoQ&feature=channel
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Pejorativo.
Progenitores, placenta.
Parto. Pessoa.
Percurso:
Padrão.
Padre, parque, papinha, presentes, proteção, pipa, piscina, palhaço... penates.
Palavra.
Palpite, palmatória, parede.Professor, profeta, parágrafo, pintura, poesia, prosa, palco, provas, perdas. Progressos.
Pêlos.
Puberdade, pulo, pináculo, primavera:
Pabulagem, pileque, pandemônio, pretensão, poder, praia, perdição, prazer, paladar, pegação, preservativos, paixão.
Parceria. Pactos, promessas, pudor(...?), proposta. Profundidade. Perfeição. Precioso..
Pindaíba -> Postura! Precaução, prudência. Profissão, projeto.
Peso: pluma, pizza, pança, pelanca, penar, penar, penar, paranóia. Psicose.
Problemas. Psicose.
Por quês. Psicose.
Política, palanque, propina, palermas, putos, pseudos. Psicose.
Pane.
...
Patologia. Pneumonia, paralisia, parasitose, paliativos.
Perecer:
Pêsames.
Putrefação...
Por Paula Possari
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Literatejo (atrasado) pro dia das bruxas!
Era uma vez três enforcados felizes.
Andavam entre devaneios oníricos e perdições espumantes. Lânguidos, alimentavam-se de cabeças de carecas, pois o cabelo era difícil de digerir, coçava o estômago e, muito constantemente, fazia-os engasgarem.
Viviam no esgoto, pois quando saíam às ruas eram apedrejados, assim como as mães do oriente médio que têm seus cérebros estourados em fragmentos singelos e macilentos por suas crianças, tudo por terem seduzido os maridos de outras. A diferença é que a culpa deles era serem feios e doentios, e por isso, muitas vezes voltavam com alguns pedaços a menos de orelha ou nariz.
Seus olhos esbranquiçados babavam a libido de mortos que não tinham com quem escoar seus impulsos, escoavam, então, mutilando-se e, muitas vezes por dia, jogavam-se de penhascos. Uma vez por semana sonhavam com zebrinhas e toda quinta-feira à tarde fingiam sorrir defronte postes e paredes pelas ruas da cidade, embora fossem repudiados à luz do dia, sentiam-se bem com a tradição. Embora houvessem discutido muito sobre os riscos que corriam, haviam decidido que era tudo legal demais para pararem com isso.
Toda terça feira à noite, encontravam-se na praça com toda sorte de malditos e punham-se a contar contos de terror regados de ópio e bebericagens exageradas.
Certo dia, um dos enforcados veio com uma história cabulosa. A história mais hediondamente peluda dentre todas do mundo inteiro, chamava-se:
O HOMEM DA PERNA COMPRIDA
“Eu morava na roça num muquifo enlatado com minha mainha, meu pai e as minhas três irmãs. Meu pai tinha o hábito saudável de beber bastante, chegar em casa e violar toda a família. Minhas irmãs adoravam, minha mãe gritava de prazer e eu, particularmente, não gostava, às vezes meus fundilhos sangravam meses a fio, no duro.
“ Certa nebulosa noite, saí para tomar um ar e vi, na orla da floresta, sem eira nem beira, um vulto murmurante. Cheguei perto, uma melancolia ambulante, ululava por entre o desgosto um homem à cavalo. O homem, à primeira vista, era normal, simpático até, se descontarmos a falta de orelhas e as duas jabuticabas escuras que substituíam os olhos. Não tinha cabelo e a boca encontrava-se remendada por algum tipo de linha e cola quente, não sei ao certo.
“No entanto, havia uma coisa que me incomodava naquele sujeito, uma particularidade estranha dele, era sua perna. Uma delas era proporcionalmente uma razão áurea maior que o dobro da outra, deveras peculiar, e enquanto ele cavalgava a perna arrastava no chão e ele grunhia. Deixava para trás apenas a camada de carne que nunca cicatrizava e um rastro de sangue que nunca coagulava. E caminhava sem rumo, arrastando sua perna comprida pra onde o seu querido cavalo o levasse, e arrastando ia, e era sua sina.
Fábio Andó Filho.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Procura da Poesia
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
[...]"
Carlos Drummond de Andrade
(A Rosa do Povo)
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Estatelando na real
Não sei citar na literatura universal sequer um grande homem que tenha completado sua jornada sem enfrentar nenhum tipo de prova ou expiação. Não imagino sequer um pequeno homem assim. E, como todo aspirante a, simplesmente, homem, também tive de marchar por uma dessas provações existenciais.
A minha provação veio bem logo e assumiu o estranho formato de uma nimiedade cartesiana. Bem logo mesmo, mal sabia eu ler e escrever, nem ao menos andar ou falar, pior ainda, que o diga, entender.
Aos píncaros dos meus louros poucos meses de vida começava a pirilampear em mim aquela clássica natureza dogmática que desponta em qualquer ser vivo racional deste plano.
Sentado em meu cadeirão de bebê, na minha fleumática paidéia, tentava, gradativamente, entender as formas que discorriam nos meus sentidos, as formas que dançavam carrosselmente psicóticas perante os meus olhos, o fedor de devaneios que permeavam as minhas narinas e, sobretudo, toda a pacholagem que ululava nos meus ouvidos e reverberava na minha cabeça. Era tão chateante. Chegar ao mundo, cheio de expectativas e perceber que ainda não fazia parte dele. Tão deprimente a desgraçada decepção de desolamento social. Era chata mesmo, muito chata, a misantropia e a maldita segregação. Mais chata ainda era ser chateado pela galhofa das pessoas ao meu redor, que ardilosamente me subestimavam e me subjugavam à palhaçada pura. Era como ser piparoteado em minha virilidade a cada mimo e gracejo dos mendazes facínoras. Era sentir-me lânguido diante as minúcias tediosas e ser ridículo ao ser banhado de ninharias. Ser bebê era estupidamente humilhante. Ter que agüentar aquela fuzarquia farrista era dor pior que a felonia, era o mais desvairado e esquálido dos sentimentos pejorativos. Eu não agüentava. Para mim, tudo aquilo deveria explodir e perder-se no ocaso. Esse era o meu maior desejo, o ideal que me manteria de pé. Era minha maior vontade.
Muito me esforcei, então, para que aquilo tudo virasse poeira estelar, era hora do basta. Dediquei toda a minha voluntariedade, fixei-me ao péssimo preceito da Vontade de Schopenhauer, no fundamento da idéia platônica e fiquei ali, querendo. Com uma força de vontade cada vez maior, eu insistia em querer muito e a vontade chegava a ultrapassar uma escala industrial de infinito querer. E desejava em cada suspiro. Cada resquício de aspiração e anseio que não estivesse querendo era cruelmente repreendido e acoplado imediatamente à força de vontade. Mas nada parecia mudar, e a minha vontade se esgotava, esvaindo-se em cachoeiras metafísicas. E num último súbito de insistências, quis mais uma vez, exausto. Meu corpo enrijeceu-se, pois não agüentava mais tanta vontade. Assim, por uma tremenda quantidade supérflua de má sorte, deixei meu corpo derrubar-se do cadeirão, ficando no ar da mesma forma que os tijolos não ficam e, doravante, estatelando-se no chão da mesma maneira que os tijolos que não deveriam estar no ar estatelam-se.
Chega uma hora na vida que a gente se toca e deixa de ser besta.
Fábio.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Burice sem limites.
sábado, 11 de outubro de 2008
Nenhum ensaio sobre nada.
I – Nenhum ensaio
Lindamente, eu não sei o que permeia esta plenitude lírica das oscilações vazias. Em ausência idiossincrática, de uivos ululantes, simula um monte de idéias retóricas. Ícones sem face e sem presença cultuados pela vida são o que não resta daqueles que já não existem. Uma negação da verdade, eles são exatamente o que as siriemas não são. Incapazes de serem levadas pelo vento e capitularem ao tempo, permanecem onde não estão, invejando aos pintinhos, alheios, ventáveis, assim como aqueles que precedem os outros que procedem muita coisa com o risco de causar algo de grande magnitude, podendo abranger até mesmo a pesca por luminescências esplêndidas mesmo, às vezes muito aquém do permitido por nossa capacidade incipiente, afogando-nos de novo ao nada. Nada é, nebulosamente, a gênese. Aqueles que procedem são, consequentemente, simplesmente, nozes.
II – sobre o nada.
O nada é a sobreposição de tudo e, por sobrepor tudo, submete-se à anulação. Nada, então é o estado mais completo e complexo da metafísica, sendo congruente ao tudo e adjacente ao quase nada. Não é mais vazio agora. O nada é tudo cheio, como o branco é cheio de luz e o preto é cheio de cor, enquanto a recíproca é oposta. Como o amor é cheio de outro, e a solidão é excesso de si. Como a vida é feita de morte e a morte é feita de vida. Nada é tudo e tudo é nada, mas sobre isso nada podemos falar. Um circunlóquio sem fim e sem sentido. Assim como o universo, que não significa nada, exatamente por ser absolutamente tudo.
III- O Gnomo, nihil.
Fábio e Vítor.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Contagie.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
O passado é meu presente
"O passado é minha cicatriz
marca, estigma,
sombra delineada
pelo sol que se põe.
História
vivida, inventada
contada, falseada.
Fragmentos
de sonhos
derramados
numa ampulheta.
O passado
é meu presente
nele nada posso alterar
vírgula, ponto, exclamação.
Teimo em ser
presente.
Argonauta
em um oceano de memórias,
me atiro no mar
do imponderável.
Desejo
um encontro marcado
com o futuro
presente
imarginado,
imaginado
travesso,
buliçoso...
Tenho um encontro certo
Mesmo sabendo
que tudo o que é certo
é a inércia da morte.
Navego poeta,
navego,
pois viver não é preciso"
João Bosco Sousa
domingo, 5 de outubro de 2008
Indigente, descendente, tudo gente.
Chuva, ou choro, de gotas, ou lágrimas, opacas, tristes. Deixam-me nenhuma flor. Menti, a única coisa que molha minha sepultura é o suor viscoso e mal cheiroso do coveiro, nenhum'alma sequer presta-me homenagens, nem mesmo os céus. A terra seca me cobre, um sol escaldante de meio-dia queima, arde, mas sinto um frio insuportável, o frio de ser eternamente só, e isso é só.
Descendente
Sol, calor, praia e paixão. Curto o meu luto no Havaí.
Gente
Gente quente e valente, brilho nitente e inconseqüente, indolente, mas iridescente, crente e descrente, sabida da mente e mente. Pra parente, ente, ainda mente, piamente, sempre descaradamente, lindamente. Do mundo, semente, inclemente, somente carente, um incandescente acidente de natureza indecente. É complacente, condescendente e benevolente, porém de forma irreverente, maleficamente, etnocentricamente e egocentricamente é, simplesmente, gente.
Vitor Aruth e Fábio.
Sem título
Muitos vivem em pensamento e, conseqüentemente, não vivem. Por que tanto esforço, Sempre me pergunto se isso não passa de uma necessidade, própria de nossa espécie, de segurança e, principalmente, de conforto. Viciamo-nos nessa maldita realidade ideal, perfeita, e nos perdemos de nossa própria realidade.
Vitor Aruth
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Gramática.
Para revolucionar
De jibóia e colméia
Os acentos vou tirar
Preposição e verbo
Distinguia-se com zelo
Agora pára é para
e pélo vira pelo
Por falar em distinguir,
Sumiram com a nossa trema
Não deviam nos argüir!
Isso sim é um problema
Para completar
Vão os hífens assassinar
autoescola, contrarregra
Coisa feia, vá se catar!
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
O Homem
Morro e desmorro e corro em pesadelo e discorro em devaneio. Diáfana imagem inexistente, reflete incandescente a melancolia complacente ao meu trajar irreverente. Ensaio a tristeza e o desespero e a falta de destreza e o desassossego d'alma que me mente a existência inexistente onde moro e que devoro.
Só, me faço só. Diante de realidade intermitente, porém sem marcas de tempo se faz perene, seria ainda maior o pesar de viver assim com outrem, me faço só. Escolho, entre tudo, nada, não suportaria o fardo de outr'alma suportar o fado de minh'alma. Por isso simplesmente os retorno à poeira, poeira à qual meu maior desejo é regressar, fazer parte das estrelas, minhas únicas companheiras. E assim vivo e não vivo.
Curto e não-curto esta curta eternidade maçante e instantânea de um hussardo sem causa, mas com conseqüência, numa seqüência de causas galantes e chatas de ínfimos prazeres magníficos e errados em pecados de insanidade.
Choro, grito, mas o silêncio mantém-se mórbido, nem mesmo posso ouvir o pulsar de meu coração, não pulsa. Porém gozo, como se me deleitasse de ilhargas, necrófilo, apenas observo em minhas tristes noites o ardor ígneo apaixonado dos casais jovens e posso ver após o orgasmo um momento de verdadeiro amor. Então penso, sou amaldiçoado pelo pensamento, um cão sujo, sarnento com chagas e vermes se aproxima, tenho inveja dele.
Ouço, mundo, e calo, mudo, ele não me pertence, eu sou uma serpente de paixão e de não-amor, sorte, empedernido em silêncio, quieto, pra não ter que falar, vivo, emudecido estático emporcalhado, choro, enlamecido, grito, em sinfonia minimalista, reverbero um prestíssimo, mas ninguém me ouve.
Amanhece, quero ver o sol, sentir o calor, sentir-me como todos, não sinto. Mas compreendo, não sou o único, não posso ser o único, pois no escuro somos todos iguais, e é no escuro, mesmo indistintos.
Fábio e Vitor Aruth
terça-feira, 30 de setembro de 2008
"Esse é o meu espaço!"
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Para entender a Crise Econômica.
Hoje, segunda-feira (29), as cotações na Bolsa de Valores de São Paulo despencaram absurdamente e teve as negociações interrompidas por um período. A BOVESPA fechou em baixa de 9,36%, sendo interrompida por volta das 15hs com a ativação do circuit-breaker.
Experimentando um ímpeto jornalístico que deu em mim hoje, resolvi narrar um panorama geral sobre a crise econômica que está empestando todos os quatro cantos e sete mares desse meu mundo bonito. (Nem pensem em discutir a jornalisticidade do meu artigo. No começo tá meio confuso, mas vale a pena ler que no fim encaixa).
Tudo inicia na terra do Sam, Sam é um criador de porcos muito simpático, para os que não o conhecem, e lá praqueles confins existem muitas empresas, multinacionais, holdings, dumpings, doping entre outros.
De forma geral, as empresas de lá não seguem um crescimento sustentável, ou seja, não conseguem manter um desenvolvimento constante de longa duração, e sim, crescem de forma piramidal. E como tudo no mundo é movido pelo desespero, febres e frenesis multiturdinários, temos por fim um estado. O Estado de bolha. A bolha é um resultado de um crescimento desenfreado que gera uma euforia econômica inicial generalizada que acaba saturando de ofertas e faltando em mercado, a bolha enche tanto até um momento em que não há como sustentar-se, ocasionando a Explosão da Bolha.
Seguindo o preceito da bolha assassina, podemos situar a terra do Sam num momento de arrefecimento econômico. A economia desanda. Clichê que é a vida, todo mundo vai pra rua, come mato e etc. O problema é que esses milhares de desempregados foram pegos de surpresa. A bolha é um evento repentino e afunda do Outono às cinzas e pó, (pó esse que muitos começam a cheira após alcançar o fundo do poço, o que talvez explique o fato dos EUA ser o maior consumidor da droga no mundo, financiando guerrilhas colombianas que nem são tão expressivas assim). O importante é entender que todos estavam satisfeitos com o crescimento econômico e muitos se empreitam a realizar seus sonhos, e muitas vezes isto significa o financiamento de uma casa própria.
O negócio imobiliário tem um mecanismo peculiar. Bancos financiam a compra de casas próprias, como garantia os compradores deixam a sua própria casa, o que é chamado de hipoteca. Quando num desenfreado crescimento econômico, todos foram lá financiar suas moradias, mas com a explosão da bolha, todos ficaram sem dinheiro para pagar o financiamento. Acontece que os bancos podem pegar todas as casas pra eles, mas isso não é lucro nenhum porque o banco não quer morar nelas, ele quer vendê-las, e se existe uma manada de casa pra se vender, pela manjada lei da oferta e da procura, o preço das casas cai. O banco não tem outra saída senão dar pití. Crise nos bancos.
Quebra um, quebra outro, quebram todos os bancos. Inevitável, sem banco não tem mais como. Não existe mais crédito pra ninguém, nem pra física ou jurídica, muitas empresas começam a falir, decorrendo na queda do valor de suas ações, ocasionando a queda na bolsa de valores. Os investidores, ou por medo, ou por prevenção, ou por osmose, tiram seu dinheiro de seus investimentos, e a bolsa cai mais ainda.
Agora que o Sam, o John e o Tom estão sem dinheiro lá em suas casas, eles vão pegar de volta o dinheiro que estavam investindo no negócio do Pelé, do Katsumoto, e de todo mundo. América, Ásia, África, Europa, Oceania e um terceiro continente à sua escolha, todo mundo vai por água abaixo, ninguém mais tem capital, sabe lá onde foi parar o dinheiro. O que, até então, acontecia nos EUA, vai refletir-se nos mercados do mundo todo.
Viajando até a terra do café. (Café que já teve problema em crise parecida em 29. ver a grande depressão.). Aqui na Bovespa, todos os estrangeiros que tinham comprado ações de empresas nossas resolvem vendê-las para recuperar o dinheiro investido. Primeiramente, vai circular menos dinheiro por aqui. Mas, além disso, vai aumentar em muito a oferta de ações na bolsa de valores, e o mercado, saturado, vai baixar suas cotações. Isso é o que chamamos de queda na bolsa de valores. Quando a bolsa cai, quem investe encara um impasse. Uma bifurcação econômica, ou sai ou racha. Alguns acreditam em recuperar tudo, mas a maioria é motivada pelo desespero e resolve vender suas ações. Como todo mundo quer vender a qualquer custo, o custo cai, principalmente porque não tem quem compre. Isso é uma bolha dentro do mercado de ações. E a bolsa despenca muito.
Foi o que aconteceu hoje, a bolsa caiu muito, por conta de tudo isso, e para conter esse desespero, para as pessoas não enlouquecerem e piorar mais ainda a situação, dispomos de um mecanismo chamado circuit-breaker que estabelece uma interrupção nas negociações (que, para quem não sabe, são online e muito rápidas) para aplacar os ânimos e respirar um pouco.
Fábio Andó Filho.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Escrever é engraçado. Escreve que é engraçado.
Quando desperta a inspiração, não tem como segurar. Dá no cérebro um comichão, sintoma que indica que o lóbulo esquerdo e o direito abalroam-se em uma psicodinâmica incrível, e o frontal tilinta com o hipotálamo, que por sua vez, com seu tamanho de noz, rodopia um quebra-nozes numa freqüência absurdamente LHC da vida, e a coceirinha sobe lá nas unhas que se contorcem em um tenesmo literário, e segue-se de um branco. Conseguinte, uma enxurrada de palavras despenca na ponta do lápis. E sai uma forma, disforme e segue conforme o grafite escorrega nebuliforme. Não dá pra pensar em outra coisa a não ser na ausência de pensamentos. Segue-se então sem temática, sem sentido e sem conteúdo. No mais, quando falta palavra, eis que aparece uma indecifrável amiga que, finda a análise, descobre-se totalmente pertinente, também escreve-se eufonicamente, e resulta, paradoxalmente, num desconcerto formidável de quem, em esplendor, enaltece toda sua expressão em caótica precisão.
E no fim das contas é atribuível de sentido toda a obra, inclui ainda metáfora e crítica social, inclui ainda caráter lírico e harmonia tática. Escrever é engraçado, não se prescinde pensamento de palavra e palavra de sentimento, e intrinsecamente, tudo vira sopa, e flui de vento em popa, e fica engraçado. Escrever é um tipo de lisérgico, puro desvario, deve ser por isso que vicia, e ensandece, e pira, afasta a pessoa da realidade, enquanto essa pessoa, na realidade, discorre sobre a realidade, absorto em alucinação. No fim é aquele regozijo, e no meio é pura endorfina, e começa tudo com um simples riso. Se não me parassem, eu não pararia, é um surto, é uma encruzilhada hexagonal de piração, muita adrenalina que fulmina em um momentâneo estado de anipnia. Fisga a razão de forma libidinosa e excita e seduz, deveras jovial, arrepia o coração e dispara a alma, confunde em sinestesia qualquer são. Canoniza o poder da idéia, a força da criatividade, e vem, de criar, a habilidade. Surge o mundo e um poço sem fundo de vontade de pensar, apetece o imaginar num compêndio de mirabolantes planos infalíveis, tornando-se uma rotina sem repetição.
Escreve que é engraçado. Aguça-se os sentidos de tamanha forma que não se sinta mais nada, e flui em frenesi todo tipo de maluquez, é catalizar a oxidação do ressentimento em rés do sentimento, desatar todo e qualquer rancor, pungir todos os nós. É exultar a beleza e os valores de homem e natureza. É lindo, e engraçado.
Fábio Andó Filho.
Brincadeira de criança.
Ius naturale
E seguindo este ímpeto foi que dilaceramos nossa primeira horda.
Em jarras jaziam juntas de ouro fulvo, com as quais nos banhávamos. Entre fúlgidas sintonias douradas bebericávamos e, ébrios de rum, dançávamos nossa tartárica psicose do sucesso de nossas primeiras degolações. E assim outorgamo-nos o mérito de Ba'al dos demônios, tormenta desse sorumbático universo.
Dobrando a esquina do vórtice de nosso destino imperou sobre nós a verdadeira tormenta, esta do último círculo do Inferno de Dante, e penetrando com nossa musa nas entranhas da névoa cega e do frio farpado um titã de gelo carcou nosso casco.
Soberbos que subjugamos as piores castas sucumbimos à suprema Gaia, sangrando em sina solferina sob o choro sibilante de Urano.
Vitor Aruth e Fábio.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Aspargos e Almíscar
No entanto, o mesmo poente traz a melancolia do fim de um dia fatigante, no qual os dois singelos serafins crepitam em louvor à sua simplicidade. E, minuciosamente indiferentes ao caos que se propagar, aconchegam-se em seu catártico emaranhado de louros, dantes o cume da vitória, doravante um ninho de amor.
Fábio e Vitor Aruth.
_
Mesmo em nosso mundo ainda podemos encontrar o amor.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Enquanto isso, na pizzaria...
Paula Zogbi Possari.
O Manifesto.
de instintos caninos.
Seres abrasivos,
bobos adesivos
presentes em nós.
Escuro, não obstante,
ledo me apetece.
Em obscuro instante
minh'alma arrefece
de forma feroz.
Uma chave antiga
no meu peito e leito,
a clave mitiga.
Tanto sem respeito
litiga uma noz.
Lascivo semblante
em nós operante.
Nocivo falante,
de voz um errante,
das idéias é foz.
É a criatividade
que muito vivida
se cria sem idade
de espontânea vinda
desponta na voz.
Fábio e Vitor Aruth.
_
Para os olhares mais atentos, o poema forma um pentagrama perfeito, cinco sílabas métricas, cinco estrofes e cinco versos em cada, com pontas que ligam-se externamente. O pentagrama é associado à força da terra, fogo, água e ar, coordenadas por uma outra força, que apresentamos como a força da criatividade. Este é o manifesto da criatividade. A criatividade é a habilidade do criador. Os rumos do universo são, caoticamente, escritos pela força da criatividade, a força de imaginar algo inimaginável. Motivados por esta entidade essencial no progresso e na evolução, elaboramos este manifesto.
A criatividade para o Wikipedia:
- "o termo pensamento criativo tem duas características fundamentais, a saber: é autônomo e é dirigido para a produção de uma nova forma" (Suchman, 1981)
- "criatividade é o processo que resulta em um produto novo, que é aceito como útil, e/ou satisfatório por um número significativo de pessoas em algum ponto no tempo" (Stein, 1974)
- "criatividade representa a emergência de algo único e original" (Anderson, 1965)
- "criatividade é o processo de tornar-se sensível a problemas, deficiências, lacunas no conhecimento, desarmonia; identificar a dificuldade, buscar soluções, formulando hipóteses a respeito das deficiências; testar e retestar estas hipóteses; e, finalmente, comunicar os resultados" (Torrance, 1965)
- "um produto ou resposta serão julgados como criativos na extensão em que a) são novos e apropriados, úteis ou de valor para uma tarefa e b) a tarefa é heurística e não algorística" (Amabile, 1983)
- "é o processo de mudança, de desenvolvimento, de evolução na organização da vida subjetiva" (Ghiselin 1952)
- "manipulamos símbolos ou objetos externos para produzir um evento incomum para nós ou para nosso meio" (Flieger 1978)
Mirificácia
Bem-vindos!
O Mirificácia é um blog conceito. Conceito de algo maravilhoso, admirável. Algo que atinja o indivíduo e faça-o ascender. E acender. Que desperte um conceito adormecido. Uma busca engajada atrás do ouro artístico e da doce literatura perdida e da preocupação por um futuro mais prezável. Ou simplesmente um balde ao léu, um alvitre às mentes reprimidas, um convite à criatividade, à força de expressão. Mirificácia é o desejo de disseminar a prole de uma revolução mental. Uma revolução pelo que é do bom e do barato. Pelo que é arte, pelo que é idéia, pelo que vale a pena viver.
Esperamos a colaboração de todos :)
Fábio Andó Filho.