Corria o ano de 2029. O planeta estava afogado no lixo quando J.R. Elinton meteu-se a morrer. Decrépito, entoava uma compleição taciturna e castigada, mas seus olhos iridescentes denunciavam, em meio a um obnóxio novo mundo de Hades, aquele que havia sido o último dos homens a ter habitado a superfície. O seu funeral estava um fracasso, apenas prestava o seu luto, de forma alheia, seu sobrinho K. O menino, aos píncaros de seus vinte anos era, agora, o mais velho ser humano em vida, primogênito da nova geração, fora o primeiro parto no Reduto.
Os olhos de J.R. Elinton permaneciam abertos e pareciam contemplar um jovial sol a patuscar com uma pirilâmpica lua na orla do mar, um esperançoso ensaio de tudo o que não resta daqueles que já não existem. No entanto, eles apenas repousavam, descansavam da vida que caçaram. Aqueles dois vórtices desapaixonados pela sina tinham visto, em 2009, como a recessão derrubara casas e casos em crise e como as catástrofes decorreram do betume e da besteira.Haviam olhado para o crepitante superaquecimento, a superprodução de lixo e de hiperpoluição, mas sem atinar às suas premeditáveis conseqüências. Haviam registrado cada medida proposta, desde o implante e a conseguinte rejeição de taxas para coleta de lixo, campanhas de reciclagem apoquentadas, até alguns acelerados experimentos, na jactanciosa esperança de que brincar de Natureza salvaria sua natureza. Haviam testemunhado o descaso que atolou, subitamente, as pessoas em desgraça e o mundo e caos. Mas, abriram-se apenas quando já era tarde demais.
Aquela, agora diáfana, dupla de olhos tinha despertado no ocaso, junto a tantas outras, e puderam somente lacrimejar em vão, assistindo às medidas desesperadas de governadores e cientistas propondo absurdas máquinas de compactação de lixo em larga escala, ou pílulas de hidratação que fomentavam a economia de água no organismo, incineradores portáteis, ou sondas espaciais de lixo. E, enquanto lacrimejavam, viram-se levados a redutos subterrâneos construídos pela ONU e viram morrer, em vinte anos, todos os ex-habitantes da superfície, incapazes de viver na ausência de vida.
Os olhos, antes de serem fechados, puderam então compreender que o paraíso existiu na Terra, mas só podia ser visto pelos que abriam os olhos, e que seja qual for, medida nenhuma podia ser proposta que poderia livrá-lo do inferno, senão o despertar de cada indivíduo.
6 comentários:
"eu sou primeiro lugar e meu nome é fabslove!" hahahaha
Tinha até esquecido de como estava bom mesmo! Parabéns, amorzinho. Você sabe que merece.
redação campeã. uhul. um orgulho. mas foi muito bem escrito mesmo, e gostei do tema que você escolheu [não sei se já tinha sido pré estipulado]. continue assim e roube meu lugar na USP ! :D
parabens pelo prêmio, foi merecido.
hauhauhauha o tema, quanto o ótimo começo que inclusive incluía a pérola chamada J.R. Elinton já estavam definidos :P
Brigado :)
"de tudo o que não resta daqueles que já não existem"
uahauhauuaha
liindo ;]
s2
primo...
q orgulho de você!!!!!
cada dia mais viu?
ah!seja o primeiro da familia a não fazer cursinho e passar direto pra facul!XD hahahahahahahahahaahah
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