sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Preconceito


“Você é muito nova”, dizia, “não entende as coisas complexas da vida”, acariciava seu couro cabeludo, cheiro de maçã verde, “na sua idade, ninguém sabe o que é amor”. Lágrimas nem sempre querem carícias.
Mas você amava. Era impossível que não. Doía, sangrava, e ao mesmo tempo era suave, belíssimo, infinito. (Por que não chamar de infinito algo que você não quer que acabe?)
“Tudo bem, você tem muito para viver”, insistia, e agora não entendia porque você tão cedo parara de chorar e olhava fixamente para as pedras (cinzacinzacinzavermelhacinzafolha). “Você quer ficar sozinha?”
Não queria ficar sozinha, mas estava na companhia errada. Disse que sim, ou só balançou a Cabeça de modo que se compreendeu que sim. Talvez nada disso.
Quem foi que disse que para sentir é necessário ter vivido muito tempo? Intensidade não é sinônimo de vivência, apesar de terminar com idade. Humanidade termina com idade. Os sentimentos, principalmente os bons, não possuem preconceitos. As pessoas, principalmente as não muito boas, essas sim.
Não que seu conselheiro não fosse uma pessoa boa, ele “quer sempre seu bem”. Mas existem coisas que estão dentro de nós, lá dentro mesmo, e os outros não precisam tentar enxergar ou entender. Qual é o ponto? A essência de cada um está no que ninguém vê, ninguém ouve, ninguém sente, ninguém sabe, ninguém nada. E o amor também.
Amava. Amava porque amor é cor, é som, é cheiro, luz, vento, é imortal e morre. E vive. E morre. E volta. As pessoas nunca acreditam amar sem amar de verdade. Elas podem até pensar, ou dizer, mas nunca acreditar.

Paula Zogbi Possari

4 comentários:

Guilherme D. disse...

legal, curti muito o blog!
vou linkar com o meu!
beijos.

Unknown disse...

Chorei...

Sem palavras!

Fábio Andó Filho disse...

Quem é esse aí o qual você escreveu um texto de amor para?

Unknown disse...

Paula,

Ler você é tão maravilhoso e tão pouco conhecida. Quando leio vc sinto-me totalmente voltado para fora, parecem suceder em mim coisas que ansiava e não observava.

Papi