terça-feira, 4 de novembro de 2008

Literatejo (atrasado) pro dia das bruxas!

Era uma vez três enforcados felizes.

Andavam entre devaneios oníricos e perdições espumantes. Lânguidos, alimentavam-se de cabeças de carecas, pois o cabelo era difícil de digerir, coçava o estômago e, muito constantemente, fazia-os engasgarem.

Viviam no esgoto, pois quando saíam às ruas eram apedrejados, assim como as mães do oriente médio que têm seus cérebros estourados em fragmentos singelos e macilentos por suas crianças, tudo por terem seduzido os maridos de outras. A diferença é que a culpa deles era serem feios e doentios, e por isso, muitas vezes voltavam com alguns pedaços a menos de orelha ou nariz.

Seus olhos esbranquiçados babavam a libido de mortos que não tinham com quem escoar seus impulsos, escoavam, então, mutilando-se e, muitas vezes por dia, jogavam-se de penhascos. Uma vez por semana sonhavam com zebrinhas e toda quinta-feira à tarde fingiam sorrir defronte postes e paredes pelas ruas da cidade, embora fossem repudiados à luz do dia, sentiam-se bem com a tradição. Embora houvessem discutido muito sobre os riscos que corriam, haviam decidido que era tudo legal demais para pararem com isso.

Toda terça feira à noite, encontravam-se na praça com toda sorte de malditos e punham-se a contar contos de terror regados de ópio e bebericagens exageradas.

Certo dia, um dos enforcados veio com uma história cabulosa. A história mais hediondamente peluda dentre todas do mundo inteiro, chamava-se:

O HOMEM DA PERNA COMPRIDA

“Eu morava na roça num muquifo enlatado com minha mainha, meu pai e as minhas três irmãs. Meu pai tinha o hábito saudável de beber bastante, chegar em casa e violar toda a família. Minhas irmãs adoravam, minha mãe gritava de prazer e eu, particularmente, não gostava, às vezes meus fundilhos sangravam meses a fio, no duro.

“ Certa nebulosa noite, saí para tomar um ar e vi, na orla da floresta, sem eira nem beira, um vulto murmurante. Cheguei perto, uma melancolia ambulante, ululava por entre o desgosto um homem à cavalo. O homem, à primeira vista, era normal, simpático até, se descontarmos a falta de orelhas e as duas jabuticabas escuras que substituíam os olhos. Não tinha cabelo e a boca encontrava-se remendada por algum tipo de linha e cola quente, não sei ao certo.

“No entanto, havia uma coisa que me incomodava naquele sujeito, uma particularidade estranha dele, era sua perna. Uma delas era proporcionalmente uma razão áurea maior que o dobro da outra, deveras peculiar, e enquanto ele cavalgava a perna arrastava no chão e ele grunhia. Deixava para trás apenas a camada de carne que nunca cicatrizava e um rastro de sangue que nunca coagulava. E caminhava sem rumo, arrastando sua perna comprida pra onde o seu querido cavalo o levasse, e arrastando ia, e era sua sina.


Fábio Andó Filho.

5 comentários:

Lichas disse...

Homenagem à namoradinha, que lindinho.
:)

Fábio disse...

COOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORPSE!

Anônimo disse...

Muito bom o texto, quanto ao uso da linguagem para uma compreensão "sinestésica", digamos assim...

xD

Causa uma sensação de imagem onírica, envolve o leitor, mesmo que a história não seja muito profunda, sem personagens, etc...

Você daria um bom roteirista de cinema!!

=D

Lichas disse...

Vai ficar rico ainda! O que mais eu quero?
:D

Fábio disse...

É, as coisas não vão ficar complexas aqui no blog, porque, pra quem não sabe, é tudo escrito no meio das aulas chatas :P
hauhauhaua, obrigado pelo incentivo :)