quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O Homem

Porta escancarada, corpos caídos, nova pintura rubra na sala. Sangue que escorre e corroe a alma, que me banha, que me hidrata a pele, que me alimenta. Saio, muto, minha enorme envergadura espalha sombra, transmuto, deito.
Morro e desmorro e corro em pesadelo e discorro em devaneio. Diáfana imagem inexistente, reflete incandescente a melancolia complacente ao meu trajar irreverente. Ensaio a tristeza e o desespero e a falta de destreza e o desassossego d'alma que me mente a existência inexistente onde moro e que devoro.
Só, me faço só. Diante de realidade intermitente, porém sem marcas de tempo se faz perene, seria ainda maior o pesar de viver assim com outrem, me faço só. Escolho, entre tudo, nada, não suportaria o fardo de outr'alma suportar o fado de minh'alma. Por isso simplesmente os retorno à poeira, poeira à qual meu maior desejo é regressar, fazer parte das estrelas, minhas únicas companheiras. E assim vivo e não vivo.
Curto e não-curto esta curta eternidade maçante e instantânea de um hussardo sem causa, mas com conseqüência, numa seqüência de causas galantes e chatas de ínfimos prazeres magníficos e errados em pecados de insanidade.
Choro, grito, mas o silêncio mantém-se mórbido, nem mesmo posso ouvir o pulsar de meu coração, não pulsa. Porém gozo, como se me deleitasse de ilhargas, necrófilo, apenas observo em minhas tristes noites o ardor ígneo apaixonado dos casais jovens e posso ver após o orgasmo um momento de verdadeiro amor. Então penso, sou amaldiçoado pelo pensamento, um cão sujo, sarnento com chagas e vermes se aproxima, tenho inveja dele.
Ouço, mundo, e calo, mudo, ele não me pertence, eu sou uma serpente de paixão e de não-amor, sorte, empedernido em silêncio, quieto, pra não ter que falar, vivo, emudecido estático emporcalhado, choro, enlamecido, grito, em sinfonia minimalista, reverbero um prestíssimo, mas ninguém me ouve.
Amanhece, quero ver o sol, sentir o calor, sentir-me como todos, não sinto. Mas compreendo, não sou o único, não posso ser o único, pois no escuro somos todos iguais, e é no escuro, mesmo indistintos.


Fábio e Vitor Aruth

9 comentários:

Lichas disse...

Até arrepia...

Dedão! disse...

[2]

Fábio disse...

mano, ninguém entende a gente.
Tem uma mensagem nisso.
Que cabe muito bem com vocês :P

Fábio disse...

é uma lição pra todos nós.
as nossas histórias não são só um monte de palavras embaralhadas sem sentido...
sei lá, ninguém entende nada da gente.
vou viver nas montanhas com o sturm.

Lichas disse...

Eu já tinha lido, e se não tivesse entendido, você até já tentou, chatamente, explicar ¬¬
Você que não me entendeu.

Fábio disse...

mas ninguém entende e nem se dá ao trabalho de ter uma interpretação dentre as infinitas interpretações que a gente sugere nas nossas histórias.
ninguém gosta de mim.

Lichas disse...

Nessa você nem deixou, ingrato.
Meu nome é ninguém :)

Fábio disse...

Eu te amo, eu não to falando de você, que é superior às nossas capacidades humanas, meu amorzinho.

Lichas disse...

"ninguém aqui é superior" hihi
:P